sábado, 19 de setembro de 2009

16/09/09- 17:10 Filosofando na desgraça, sessão de psiquiatria, ou sobe um filme.

Quando a vida se desgraça de vez, tudo o que o homem mis quer e ir para casa, descansar. O triste é quando o homem não sabe como voltar. Fica por aí, a vagar de um lado para o outro, sem saber que rumo tomar. Não adiantam nem o colo do mui paciente e querido amigo, nem a visão da copa da árvore, do céu azul sem nuvens e do sol a queimar o rosto, dando o ar da graça de seu amarelo celestial. Muito menos são de valia a conversa jogada fora, a velocidade adquirida no pedalar da bicicleta, o vento, que antes era de liberdade, a balançar os caros cabelos lisos na altura do meio das costas ou mesmo o revoar do bando de pardais a simples menção da minha passagem.
Tudo isso porque hoje vi um filme, do sábio centenário, conhecido por ser cineasta, Manuel de Oliveira. Sua lucidez me foi tocante. No alto dos seus noventa e três anos, na época do filme- 2001, se não me engano-, soube tocar o coração já velho, dentro de um corpo jovem. A vontade de ir para a casa é grande. Mas não a casa construída por tijolos e argamassa. Uma casa estranha, que não se sabe onde é, mas que se sabe que lá se pode descansar. Um lugar que chegue o mais próximo possível do tal do ventre materno, onde tudo, segundo sabiamente me fez lembrar o cineasta, tudo me era provido sem que eu fizesse o mínimo esforço, e onde eu poderia crescer sem ser perturbado pela desumanidade alheia, ou por qualquer outro aborrecimento.
Às vezes acho que meu ventre materno tem nome e sobrenome e que o conheço muito mais do que deveria. E, como o velho ator em cena, perdi de vez a chance de tentar adentrar novamente a mais plácida das moradas. E me dói, assim como me pareceu doer nele.
As cobranças se seguem, cada vez mais duras e freqüentes. É o diretor do filme, o amigo, a governanta, o neto....Um dia, cansa. E quando cansar, espero saber para onde voltar. Espero encontrar meu ventre materno pronto a me receber, de braços abertos, sem perguntas e que me deixe subir as escadas, com os meus botões, com a minha velocidade.
Talvez eu nunca esqueça a cena final. Aqueles olhos inocentes e preocupados, sem entender o que está acontecendo, corroídos pela novidade, no mais alto dos sentidos, talvez nos faça pensar que vai ser sempre assim: seremos sempre crianças ao longo da vida e ante às desgraças que ela trás, encararemos tudo com a surpresa e a decepção da novidade, da falta de carinho e do cansaço.
Para quem quiser ver se tira as mesmas conclusões ou se o que digo é pura matéria para tese de psicologia ou, no mínimo, para uma sessão de psiquiatria, aí vai a pouca referência que tenho, sobre autor e filme:
Título: Vou para a casa
Autor: Manuel de Oliveira, cineasta português, hoje com cem anos recém completos (dezembro de 2008), é, talvez, o mais velho do mundo a exercer a profissão. Sua lucidez e capacidade de filosofar sobre os assuntos que são matéria de seus filmes, como se pode ver na entrevista que é parte integrante do DVD do filme em questão, é realmente invejável. Um belo cineasta, um excelente filme.

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