sexta-feira, 31 de dezembro de 2010

Bem ao soar do gongo da última zero hora do ano, posto esse textinho que recebi de uma amiga querida, por e-mail. Acho que, com ele, embora não seja de minha autoria- e eu também não sei de quem é-, fecho 2010 com uma chave bem bonita! ;D
Aí vai ele:


Ano Novo

Lá bem no alto do décimo segundo andar do Ano
Vive uma louca chamada Esperança
E ela pensa que quando todas as sirenas
Todas as buzinas
Todos os reco-recos tocarem
Atira-se
E— ó delicioso vôo!
Ela será encontrada miraculosamente incólume na calçada,Outra vez criança...


E em torno dela indagará o povo:— Como é teu nome, meninazinha de olhos verdes?

E ela lhes dirá(É preciso dizer-lhes tudo de novo!)
Ela lhes dirá bem devagarinho, para que não esqueçam:— O meu nome é ES-PE-RAN-ÇA...



Dedico à você, que me disse que passaria o Ano Novo de verde e, claro, à minha querida amiga, dona do e-mail!

quarta-feira, 15 de dezembro de 2010


Quinta-feira, por volta das onze horas da noite, semanas atrás:
Meu professor, ao sair da aula, comentou um serão para o qual eu tinha certeza que iria. Me emprestou o livro da autora da vez. Surpresa!
Terça –feira, oito da noite, semanas atrás, mais atualmente do que a quinta:
Serão rolando, cabeça zunindo: Enxaqueca, cama.
Outra quinta-feira, pouco menos de onze horas:
-Você perdeu o serão da Jeanette. Foi muito bom.
- Tive uma crise de enxaqueca, não deu para ir.
Mais uma quinta, também por volta das onze:
-Professor, ainda não consegui terminar de ler o livro, você vai querê-lo de volta?
-Pode terminar de ler, depois você me devolve.
- Ok.
Quarta-feira, 15 de dezembro de 2010:
Terminei de ler o tal livro e me arrependo de não ter feito um esforço para ir no serão.
-Mas que raio de livro é esse, cazzo?
-O livro se chama Autobiografia de um crápula, de Jeanette Rozsas.Tenho que dizer que, depois das Brumas de Avalon, não li nada por prazer.... e só. Li por motivos profissionais, claro. Afinal, uma “erudita em formação” deve sempre ler, não é mesmo? De fato não me arrependo. É esse um excelente livro...
O que tem de tão bom assim? Depende... Eu cito as coisas que vi, e você lê e acha as suas! Vi um diálogo imenso com o cinema, com cortes de cena impressionantes, que me prenderam e me levaram, afoita, até a última página. Também vi intertextualidades mil, implícitas e explícitas: a escrita meio diário, meio dossiê, um panorama de autores contemporâneos de literatura espanhola...
 Mas o mais legal, para mim, foi o diálogo com o Romance Policial que vi nele. Minha praia! Adorei seguir páginas e páginas da versão de bolso emprestada atrás do que aconteceria depois, achando os cortes geniais, só para saber o que acontece no final e se Morel, o fucking Morel, nojento, corruptor de menores, filho da puta traficante de drogas seria preso...
No mais achei interessante também a linguagem usada: nem baixo calão, embora apareçam palavrões, nem erudita demais, embora quase todo mundo na trama tenha ligação com o direito...
Quarta- feira, 15 de dezembro de 2010, 18:20:
Acho que vou indicar para a Virgínia esse livro. Talvez ela goste. Direito, Virgínia, dossiês.... é, talvez ela goste!
Quarta- feira, 15 de dezembro de 2010, 18:21:
-Ai, esqueci das gírias.... Adorei o “passa-moleque”... Há anos não ouço isso!
Também vi uma metalinguagem imensa do começo ao fim do livro: primeiro porque quem escreve também está na história; segundo porque há no decorrer do livro uma discussão sobre a feitura dele e, mais para o final da trama, há um capítulo, única e exclusivamente dedicada a nossa querida METALINGUAGEM.
No mais, eu amei. Agora como leitora e não como estudante fazendo uma leitura rápida e a bel prazer de uma história que leu.
Bom, é tudo o que tenho a dizer. Só me resta agora me desculpar pela ausência em serão que seria fantástico, não fosse a droga da enxaqueca!

 Jeanette Rozsas, advogada e escritora, já recebeu diversos prêmios em concursos literários, inclusive no exterior. Participou de várias antologias; é integrante do grupo Contares, Outros Contares, e Contares conta o Natal. Seu livro de contos Feito em silêncio (Ed. Vertente), obteve o segundo lugar no concurso de obras publicadas, promovido pela Academia Brasileira de Letras de São Lourenço.
Com o também premiado Autobiografia de um crápula, Jeanette desponta como uma das novas grandes romancistas brasileiras.

Rozsas, Jeanette. Autobiografia de um crápula. São Paulo: Limiar, 2003.