quinta-feira, 2 de agosto de 2012

A indesejada das visitas


À minha doença e seu remédio eficaz.

-Olá. -disse eu com o sorriso amarelo falso de toda vez que ela aparecia.
-Olá! -disse ela com aquela voz de supra soprano com IMC 36,5 que só ela tinha.
- Lembrara-se do interior?- perguntei eu, convidando-a para entrar, com uma vontade de concluir a frase com um "pensei que você tinha esquecido daqui e de mim para sempre e quase comemorei por dias ininterruptos"
-Jamais!
Eneida Xavier Queirós de Camargo era uma mulher tão irritante e difícil de aguentar quando o seu nome pomposo e grande.  Tudo nela me irritava, pois era um exagero só: Todos os tamborilar de dedos sobre uma superfície de madeira eram sons altos, as luzes eram extremamente luminosas, o falar doía aos ouvidos de tão estridente e tudo era uma dificuldade e morosidade de fazer inveja a qualquer lesma. Mas eu acho que o que me irritava mais é que tudo isso era muito contagiante e era só ela chegar para as coisas ficarem exatamente do jeito dela.
A única coisa que posso dizer que era boa em sua visita era quando ela ia embora. Primeiro porque ela ia embora. Segundo, porque seu marido, Cesar Fabrício Linz de Camargo, vinha sempre buscá-la. Ele era um senhor estranhamente agradável- um contrabalanço interessantíssimo. Seu nome era igualmente pomposo e difícil de aguentar, mas era só. Suas conversas sobre solidão, silêncio e escuridão eram um encanto, embora eu não pensasse a respeito com frequência. Um acalento por suportar sua mulher enquanto ele dela descansava... 

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