sexta-feira, 31 de dezembro de 2010

Bem ao soar do gongo da última zero hora do ano, posto esse textinho que recebi de uma amiga querida, por e-mail. Acho que, com ele, embora não seja de minha autoria- e eu também não sei de quem é-, fecho 2010 com uma chave bem bonita! ;D
Aí vai ele:


Ano Novo

Lá bem no alto do décimo segundo andar do Ano
Vive uma louca chamada Esperança
E ela pensa que quando todas as sirenas
Todas as buzinas
Todos os reco-recos tocarem
Atira-se
E— ó delicioso vôo!
Ela será encontrada miraculosamente incólume na calçada,Outra vez criança...


E em torno dela indagará o povo:— Como é teu nome, meninazinha de olhos verdes?

E ela lhes dirá(É preciso dizer-lhes tudo de novo!)
Ela lhes dirá bem devagarinho, para que não esqueçam:— O meu nome é ES-PE-RAN-ÇA...



Dedico à você, que me disse que passaria o Ano Novo de verde e, claro, à minha querida amiga, dona do e-mail!

quarta-feira, 15 de dezembro de 2010


Quinta-feira, por volta das onze horas da noite, semanas atrás:
Meu professor, ao sair da aula, comentou um serão para o qual eu tinha certeza que iria. Me emprestou o livro da autora da vez. Surpresa!
Terça –feira, oito da noite, semanas atrás, mais atualmente do que a quinta:
Serão rolando, cabeça zunindo: Enxaqueca, cama.
Outra quinta-feira, pouco menos de onze horas:
-Você perdeu o serão da Jeanette. Foi muito bom.
- Tive uma crise de enxaqueca, não deu para ir.
Mais uma quinta, também por volta das onze:
-Professor, ainda não consegui terminar de ler o livro, você vai querê-lo de volta?
-Pode terminar de ler, depois você me devolve.
- Ok.
Quarta-feira, 15 de dezembro de 2010:
Terminei de ler o tal livro e me arrependo de não ter feito um esforço para ir no serão.
-Mas que raio de livro é esse, cazzo?
-O livro se chama Autobiografia de um crápula, de Jeanette Rozsas.Tenho que dizer que, depois das Brumas de Avalon, não li nada por prazer.... e só. Li por motivos profissionais, claro. Afinal, uma “erudita em formação” deve sempre ler, não é mesmo? De fato não me arrependo. É esse um excelente livro...
O que tem de tão bom assim? Depende... Eu cito as coisas que vi, e você lê e acha as suas! Vi um diálogo imenso com o cinema, com cortes de cena impressionantes, que me prenderam e me levaram, afoita, até a última página. Também vi intertextualidades mil, implícitas e explícitas: a escrita meio diário, meio dossiê, um panorama de autores contemporâneos de literatura espanhola...
 Mas o mais legal, para mim, foi o diálogo com o Romance Policial que vi nele. Minha praia! Adorei seguir páginas e páginas da versão de bolso emprestada atrás do que aconteceria depois, achando os cortes geniais, só para saber o que acontece no final e se Morel, o fucking Morel, nojento, corruptor de menores, filho da puta traficante de drogas seria preso...
No mais achei interessante também a linguagem usada: nem baixo calão, embora apareçam palavrões, nem erudita demais, embora quase todo mundo na trama tenha ligação com o direito...
Quarta- feira, 15 de dezembro de 2010, 18:20:
Acho que vou indicar para a Virgínia esse livro. Talvez ela goste. Direito, Virgínia, dossiês.... é, talvez ela goste!
Quarta- feira, 15 de dezembro de 2010, 18:21:
-Ai, esqueci das gírias.... Adorei o “passa-moleque”... Há anos não ouço isso!
Também vi uma metalinguagem imensa do começo ao fim do livro: primeiro porque quem escreve também está na história; segundo porque há no decorrer do livro uma discussão sobre a feitura dele e, mais para o final da trama, há um capítulo, única e exclusivamente dedicada a nossa querida METALINGUAGEM.
No mais, eu amei. Agora como leitora e não como estudante fazendo uma leitura rápida e a bel prazer de uma história que leu.
Bom, é tudo o que tenho a dizer. Só me resta agora me desculpar pela ausência em serão que seria fantástico, não fosse a droga da enxaqueca!

 Jeanette Rozsas, advogada e escritora, já recebeu diversos prêmios em concursos literários, inclusive no exterior. Participou de várias antologias; é integrante do grupo Contares, Outros Contares, e Contares conta o Natal. Seu livro de contos Feito em silêncio (Ed. Vertente), obteve o segundo lugar no concurso de obras publicadas, promovido pela Academia Brasileira de Letras de São Lourenço.
Com o também premiado Autobiografia de um crápula, Jeanette desponta como uma das novas grandes romancistas brasileiras.

Rozsas, Jeanette. Autobiografia de um crápula. São Paulo: Limiar, 2003.

quarta-feira, 24 de novembro de 2010

Cheguei. Mochila jogada na cama, nariz vermelho também. Agora sou eu, exceto o resto de maquiagem.
O palco é quarto, livros, xérox, cama, pó, paredes em número de quatro.
O futuro é uma visão através da janela. Mas como é que se vê uma coisa dessas com os olhos embaçados de lágrimas?

Vergessen... alles vergessen und nichts verstehen..... Kannst du dich das vorstellen?

quarta-feira, 17 de novembro de 2010

Coisas de agenda, em meio a aulas.

Sei lá... não é que a aula estava chata, mas a empolgação mexeu comigo. Sendo assim, lá vai:

Hoje uma colega de classe explicava, empolgada, o que é poesia.
Eu, mal e porcamente sentada, apenas ouvia.
Foi então que descobri porque não gosto desse gênero:
Não entendo, não ouço, não vejo...
Além disso, concisão: não tenho, apenas desejo!

domingo, 14 de novembro de 2010

O mundo girando, caindo, se tornando mais absurdo e cada vez mais violentamente socando sua cara e você, muito pacientemente, diz, com os olhos mais verdes do que nunca, sem demonstrar nenhum cansaço, embora muito desgosto, que é preciso olhar para o futuro e calar em certos momentos para não tornar as coisas piores. E eu pergunto: de onde vem essa força, pai?

segunda-feira, 1 de novembro de 2010

I was looking back on my life III

Também achei esse começo de redação, que foi baseada no seguinte poema:
" para lá da cortina além da porta errada
silêncio e só está sentado
e lê num livro velho
a sua própria história".

Devia ser quase uma hora da tarde, e lá estava eu, entre a parede branca e a cortina, que, juntas refletiam o sol e tornavam o meu quarto insuportável, de tão claro. Pensava eu que aquilo era apenas um devaneio, pois nem nos mais doces contos de fadas os quartos eram tão claros. Dada a afirmação anterior, imagine se uma vida, em algum segundo, foi um quarto de paredes brancas iluminado pelo sol.



É uma pena que eu não tenha achado o resto. Como será que essa Aline, lá esquecida no tempo, terminou essa história? A Aline de hoje diria que, certamente, ela teria alguma flor lá meio maldosa pelo caminho.



I was loking back on my life II- Música: uma musa nua.

Essa já é uma redação de Terceiro colegial, cujo tema era música. Um tema que dominou minha vida toda e acho que dominará para sempre... exatamente pelos motivos que você abaixo lerá:

Quando o cansaço é muito, quando a raiva é imensa, quando a raiva é imensa, quando os fios de vontade que nos seguram no mundo real, aquele do sofrimento, são fortes, nos resta uma saída: uma forma de se livrar dos sentimentos ruins: a arte.
A arte mais popular que conhecemos é a música. A música nos enleva, a música nos livra, a música nos liberta dos laços do que é real. Isso já é sabido. Nos resta saber o porquê.
Esse porquê parece permitir várias interpretações. Uma delas seria o fato de a música possuir em apenas três minutos ou em longas três horas, todos os altos e baixos de sentimentos sentidos pelo homem de uma maneira geral.
A música canaliza sentimentos, a música esconde sentimentos, a música revela sentimentos. A música desperta e dorma, desenvolve e revolve, descobre e recobre, discorda e concorda, dissemina e recrimina. Por isso toda a pessoa que possui um sentimento encontrará na música seus correspondentes. Identificará pessoas ou a si mesma, enfim, viverá se quer viver, morrerá se deseja morrer, sofrerá se deseja sofrer, sentirá se deseja sentir. Musa para uns, maga para outros, a música será sempre assim... INCONSTANTE!

I was looking back on my life...



Procurava um caderno de sexta série, para ver se achava algo mais acessível para meus alunos do que as coisas que levo para eles. Achei um caderno meu de quarta série, cuja matéria era a mesma. Achei também coisas e pessoas: achei minha mãe, achei João Bosco, achei Temptations, achei Straus, achei Verdi, achei o corsa vermelho Goya, achei minhas tentativas de cantoria e a paciência de minha mãe, achei Bee Gees, achei meu choro, achei a bronca, achei Super Baba ... tudo isso em fita K7. Espantei-me. Lembre-me. Também achei: meu Pozzoli, meu Bona, meus croquis, minhas cifras, meus poemas (quando foi que passei a odiar isso? Era tão bom antes!) e.... meu caderno com as etiquetas que fiz do Ozzy para colar em cima do Piu-Piu (onde meu pai estava com a cabeça quando comprou esse caderno? Piu-Piu... ora bolas! Metaleiro com caderno de bicho fofinho... bláh!). Achei dentro desse caderno um texto meu sobre meus amores não correspondidos. Nada de surpresas quanto ao tema, somente quanto à escrita. A Aline do quarto ano de Letras tem plena certeza de que não atingiria tal nível oitava série, se tentasse reescrever esse texto hoje:

Certa vez, em um lugar não muito longínquo, aconteceu um caso de amor. Foi instantâneo, repentino.
 Pobre garota, andava triste como alguém que procura algo incessantemente, sem saber como achar. Ao entrar em um estabelecimento vê o que mudaria sua vida para todo o sempre.
Um rapaz magro, estatura média, aparentemente apenas mais um rapaz dentre tantos que ela já encontrara ou conhecera. Ao observar melhor, maravilhou-se. Era um rapaz de pele branca, cabelos longos de cor avelã.
Passado algum tempo, na nova escola, a garota reconhecera de beleza memorável que uma vez vira. Tudo se transformara. Não havia mal que aqueles olhos verdes e brilhantes, que para ela eram como grandes lagos de águas limpas cercados pelas areias brancas de uma praia deserta, não pudessem curar. Não havia tristeza que aquele sorriso não pudesse matar. Sua presença era simplesmente fundamental. Como um médico que visita um doente. Como a luz que ilumina todos os caminhos a seguir.
 Passara o tempo, dado a garota, para que desfrutasse da presença de seu amado. Só notícias lhe restaram. Só lembranças lhe alimentavam a alma. Não havia esperanças. Nem vida. Só a dor. O lago secou. As areias foram levadas pelo vento e a luz se apagou. É a vida. É o amor. É o amante, o mais insignificante dos mortais.

sexta-feira, 24 de setembro de 2010

Querida Poesia,
É uma pena. Poderíamos ter passado muitos bons momentos juntos. Poderíamos ter pego um trem de ferro e ido a paraísos onde as aves gorjeiam como em nenhum outro lugar. Poderíamos ter sido amigos do rei. Poderíamos ter ido à China e trazido um vazo chinês. Poderíamos, poderíamos, poderíamos. Valeria à pena, para nós, duas almas longe de ser pequenas. E mares portugueses não seriam o suficiente. Alguém diria “ou isto ou aquilo!”. E nós escolheríamos os dois.
Mas o fato é que nada mais me agrada em você. E não há melopeia, fanopéia ou logopéia que me faça mudar de ideia. Seu ritmo, sua rima, suas imagens, seu encavalgamento sintático, suas palavras. De fato você me irrita e...
Ahhhhhhhhhhhhh messe que estremece enlourece e o sol celestial, girassol, esmorece... vês?  Me enlouqueces!
Admiro sua inteligência, mas sinto que, de fato, se andarmos junto estaremos diminuindo um ao outro e não seria justo. Sei que você sobreviverá muito bem sem mim. Tens admiradores fiéis e só não os deu espaço para não tornar tudo concreto e eu nada entender.
Me dói admitir, mas prefiro a Prosa. Tua irmã, filha da Linguagem.
 Espero que compreenda,
Leitor.

quarta-feira, 22 de setembro de 2010

Dez anos desde nosso último banho. Dez anos desde a última vez que toquei seu rosto marcado pelas espinhas e pela falta de paciência da adolescência. Dez anos desde que dormimos nosso último sono.
Dez anos sem catar feijão e jogar conversa fora. Dez anos com excursões e sem surpresas quentes no forno.
Dez anos comendo o mesmo frango com batatas. Dez anos sentindo falta do gosto: doce do amor incondicional, salgado do desejo contido.
Dez anos sem música. Dez anos sem canto. Dez anos sem mão direita e sem rosas levar.
Dez anos sem sua alegria, sem seu sorriso, sem suas lágrimas incompreensíveis. Dez anos sem sentido, sem crença, sem festa.
Dez anos e incontáveis vezes eu desejei correr até você. E então, mesmo em meio a processos, amigos verdadeiros e falsos, temperos e cândida, você abriria os braços e só os fecharia até que eu me aconchegasse por completo.
Dez anos desde seu último sorriso, seu último espanto, sua última surpresa...
Dez anos desde o meu primeiro desespero.
Quem dera corda tivesse outra serventia... 

segunda-feira, 20 de setembro de 2010

Às vezes bate uma depressão e uma tristeza. Então, como diria um filósofo cujo nome não me lembro no exato momento, tem-se o primeiro passo para a criação. Se isso é verdade ou não, eu jamais saberei. Sei que funciona para mim, e isso, por enquanto, me basta.
Criei uma frase, comecei um poema. Alguém leu e terminou. Posto o que foi feito. É quase uma pastilha anti-ácido.. denso, pesado, mas que se dissolve, e, de repente, não mais que de repente, já foi:


Um pouco de se, muito de quase...
muito cais, muito mais,
acaso, sorte. Muito amanhã.  




ps: Agradeço, hoje e sempre, à Ane Battagy: http://sobrequalquercoisaquevemdedentro.blogspot.com/

quarta-feira, 15 de setembro de 2010

Tradução

Na apostila era mais para uma namorada, mas eu gostei mesmo assim. E claro, não poderia deixar de lembrar das minhas Freundinnen, né?
Ps: tradução livre minha- em rosa, pois é uma homenagem àquela a quem o texto se dirige-.... é, eu sou capaz!

An eine ferne Freundin
À uma amiga distante

Du hörst mir zu, wenn ich mit dir spreche.
Tu me ouves quando falo contigo.
Du antwortest mir, wenn ich Fragen habe.
Tu me respondes quando tenho perguntas.
Du sagst mir die Meinung, wenn es nötig ist.
Tu me dizes tua opinião quando é preciso.
Du hilfst mir, wenn ich dich brauche.
Tu me ajudas quando de ti eu preciso.
Du glaubst mir, ich vertraue dir.
Tu acreditas em mim, eu confio em ti.
Warum bist du so weit Weg?
Por que estás tu tão longe?
Du fehlst mir.
Tu me fazes falta.

Original em: Tangram Aktuell 3- Lektion 1-4 Kurzbuch + Arbeitsbuch (Niveau B1-1)
Lektion 1, Seite 8.

Não era sua intenção, tenho certeza. Quando nada dizemos, a última das coisas que queremos é isso. Quando nada sabemos, damos os melhores conselhos.
Mas é a primeira vez que sigo um conselho de verdade e de todo coração. É a primeira vez que não me finjo de forte, que não ligo, que não penso... que choro. Choro de todo coração. Com todo amor, com todo ódio...
Choro lágrimas do maldito se aceitar, do maldito se importar, do maldito fingir. Mais: do maldito suportar!
Obrigada, é a primeira vez que eu sou eu mesma. É uma pena que tenha sido entre as quatro paredes do meu quarto... Mesmo assim, obrigada... de coração!

quinta-feira, 9 de setembro de 2010

Meia hora de almoço II

Depois da do queijo ralado
a um outro tempero eu
diante dos espectadores incrédulos
uma ode prego
porque se não ficar bom com queijo ralado
experimente acrescentar orégano!

sexta-feira, 3 de setembro de 2010

Era uma vez uma moça morena e vaidosa, dessas que a gente encontra sem muito esforço por aí: morena, como já dito, alta, um bom peso- o que significa que não dá para ser modelo-, cabelo castanho, comprido, liso e... maquiagem. A diferença é que essa, digamos, não liga só para isso e é bem possível que eu dê um desconto porque rir eu rirei, uma vez que seria cômico, se não fosse trágico.
Enfim, voltemos à história: um belo dia, a nossa personagem resolveu se maquiar. Afinal, quem faz Direito tem que se arrumar do mesmo modo... ou não.
Base: ok. Sombra: ok. Delineador: ok, Lápis para olhos (preto, claro!): ok. Falta mesmo nosso amigo - meu é mais conhecido mesmo... e vai ser assim para sempre!- gloss, afinal de contas o destaque hoje é para os olhos.
Olhou-se no espelho redondo posto na parede mineira alugada, abriu o gloss e, por algum motivo muito misterioso-devia estar pensando no namorado...mulheres têm desses estremecimentos, dessas fantasias!- deixou-o cair no chão. Cacos de vidro para todo o lado e nossa personagem morena-não-modelo se apressou para pegar. Porém, como sempre tem um endiabrado- e os cacos de vidro não fogem à regra- um caco de vidro perfurou o pé fora-do-salto-alto da personagem. Então um vermelho digno de esmalte Gabriele encheu o quarto com sua presença desta vez nem tão alegre.
Moral da história: maquiagens são perigosas, além de sair com água, e é por isso que eu não uso!

domingo, 15 de agosto de 2010

Caro Vítor,
Guardei sua foto por anos na carteira, e ainda guardo. Gosto de lembrar o tempo que passamos juntos e as coisas que você me ensinou.
Gosto de lembrar de seus conselhos e de sua surpresa ao ver que eu encarava o mundo de modo a compreender o seu. Gosto de lembrar dos símbolos, dos encontros, da definição que deste a minha figura tão disforme.
Mas gosto mais de lembrar dos beijos na testa que você costumava me dar. Tão doces, tão protetores, tão verdadeiros!
Hoje me deste um pouco da alegria que tinha quando andávamos juntos.mais um beijo desses, desta vez por meios antes desnecessários. E é a isso que deixo o meu muito obrigado.
Aguardo sua volta,com tudo aquilo que a saudade dá.
Milhões de beijos iguais aos que você me dava e um desejo grande de que seu futuro seja maior do que tudo isso.
Aline.

sábado, 14 de agosto de 2010

Eu em festa

 "A verdadeira solidão é aquela que não tem passado"...
Hoje acho que finalmente descobri o que essa frase quer realmente dizer. Pode-se sempre ser acalentado por uma lembrança. Pode-se sorrir com elas.
No meu caso, elas têm trilha sonora e, enquanto houver som, seguirei rumo ao eterno silêncio.

terça-feira, 10 de agosto de 2010

Meia hora de almoço

Macarrão, pão, fritas, arroz requentado...
Tudo fica melhor
Quando tem queijo ralado!

Duplos

Uma vontade de ser cena de cinema. Uma vontade de andar de bicicleta dupla. 
Uma vontade ser dois troncos, quatro pernas, quatro braços e duas sombras.
Uma vontade de ser um dois tão perfeito a ponto de ser um só, ou muito perto disso.
Uma vontade de ser um dois diferente das duas lágrimas: a da esquerda e a da direita. Mas nem essas são dois perfeitos: a da direita sempre escorre mais rápido.

segunda-feira, 9 de agosto de 2010

O mundo das coisas, as coisas do mundo... e eu no meio!



As coisas que descubro sobre o mundo, a cada abrir de olhos.
As coisas que descubro sobre as pessoas, a cada novo descobrir de mundo.
As coisas que me invadem a cada novo descobrir de pessoas.
Mais um sopro de vida, mais um passo para a morte.
Eterno amargurar-se.
Acalme-se: para alguém como você, com ilusões pueris, isso tem outro nome... 
É choque de realidade ou, simplesmente, amadurecimento.

terça-feira, 3 de agosto de 2010

Pra que serve um relacionamento (Drauzio Varela)


Acabo de receber esse texto por e-mail. Nem sei se é mesmo do Drauzio Varela, mas era o que estava escrito lá. Achei muito bonito. Identifiquei-me deveras com quase tudo o que é dito. Mulheres serão mulheres.... SEMPRE! ¬¬

Aí vai:

Algumas pessoas mantêm relações para se sentirem integradas na sociedade, para provarem a si mesmas que são capazes de ser amadas, para evitar a solidão, por dinheiro ou por preguiça.
Uma relação tem que servir para você se sentir 100% à vontade com outra pessoa; à vontade para concordar com ela e discordar dela, para ter sexo sem não-me-toques ou para cair no sono logo após o jantar, pregado.
Uma relação tem que servir para você ter com quem ir ao cinema de mãos dadas, para ter alguém que instale o som novo enquanto você prepara uma omelete, para ter alguém com quem viajar para um país distante, para ter alguém com quem ficar em silêncio sem que nenhum dos dois se incomode com isso.
Uma relação tem que servir para, às vezes, estimular você a se produzir, e, quase sempre, estimular você a ser do jeito que é, de cara lavada e bonita a seu modo.
Uma relação tem que servir para um e outro se sentirem amparados nas suas inquietações, para ensinar a confiar, a respeitar as diferenças que há entre as pessoas, e deve servir para fazer os dois se divertirem demais, mesmo em casa, principalmente em casa.
Uma relação tem que servir para cobrir as despesas um do outro num momento de aperto, e cobrir as dores um do outro num momento de melancolia, e cobrirem o corpo um do outro quando o cobertor cair.
Uma relação tem que servir para um acompanhar o outro no médico, para um perdoar as fraquezas do outro, para um abrir a garrafa de vinho e para o outro abrir o jogo, e para os dois abrirem-se para o mundo, cientes de que o mundo não se resume aos dois.

quarta-feira, 7 de julho de 2010

Hoje faz vinte anos que, vítima de uma doença cruel e ainda sem cura, morreu um dos maiores poetas dos anos 80. Para mim, junto com o grande Raul, também já falecido, e Humberto Gessinger- esse bem vivo!-, Cazuza completa o trio de grandes gênios, goste você ou não- não me importo... o blog é meu! ahushaushaushs.
Concordo com a mãe dele, que diz que ele foi um homem de imensa coragem, pois seguiu seus sonhos, fez o que queria e, mais importante do que isso, teve garra para assumir as consequências de seus atos. Isso até você, psicóloga maluca que acha que o caráter de sua filha mudará vendo um filme sobre um "inconsequente, marginal"- falo de um e-mail que recebi há algum tempo e que me deu uma revolta gigantesca-, terá que conosco concordar.
No mais, minha pequena homenagem ao grande Cazuza, com saudades daquilo que eu não pude ver e com a alegria de fazer parte de quem apoia a permanência de sua música e poesia por muito e muito mais tempo:

quarta-feira, 23 de junho de 2010

Última fala da peça, portanto última fala da personagem:

"SÔNIA- Que é que se pode fazer, tio Vânia? Continuar vivendo (Pausa.) Nós vamos continuar vivendo, titio.Vamos atravessar uma fileira interminável de dias tediosos. E noites tediosas. Vamos aceitar com toda a paciência as provações que o destino nos impuser. Trabalharemos para os outros, agora, e mesmo quando formos velhos. Jamais descansaremos. Quando chegar nossa hora, aceitaremos a morte com resignação e, do outro lado, além da morte e além do túmulo, contaremos tudo o que sofremos, tudo o que choramos, tudo o que provamos de amargura... E Deus terá piedade de nós. Ai, querido tio Vânia, nós dois juntos conheceremos uma vida luminosa, feliz e harmoniosa. Teremos então a plenitude e olharemos as nossas desditas de hoje com um sorriso de ternura- e aí descansaremos. Eu acredito nisso, meu tio, acredito fervorosamente. Apaixonadamente... (Ajoelha-se diante dele, põe a cabeça nas mãos dele e fala com voz de cansada.) Nós descansaremos. (Tekéguinte toca suavemente.) Ouviremos os anjos e veremos todos os céus coalhados de estrelas como diamantes, e toda a maldade terrena, todos os nossos sofrimentos terrenos serão varridos pela misericórdia que cobrirá o universo. E a vida será pacífica, gentil e suave como um carinho. Eu acredito! Eu acredito! (Com o lenço enxuga os olhos do tio.) Pobre tio Vânia! Coitado do tio Vânia, está chorando... (Também chorosa.) O senhor não conheceu as alegrias da vida, tio Vânia, mas espera... espera um pouco. Nós descansaremos. (Abraça-o) Descansaremos. (O vigia noturno bate o mato lá fora. Maria Vassiliévna toma notas à margem do panfleto que lê. Marina tricota)
Nós descansaremos!"


(Tio Vânia- Cenas da vida do campo em quatro atos. Quarto ato, pp.147-148 Tradução de Millôr Fernandes.[sim, a referência tá fora das normas da ABNT e ainda por cima, incompleta!])

sexta-feira, 21 de maio de 2010

Conversa de escadaria

Pés duplicados em passos sincronizados até o meio do corredor, virando à direita, descendo a escada:
- Nossa, como você está nerd, hein? Não imaginava você assim!
- Acontece, não é mesmo?
- É... Eu me peguei vendo vídeos de MMA esses dias...
- Eu não imaginava você vendo isso!
Fim da escada...

Uma alma é um mosaico de outras......

quinta-feira, 6 de maio de 2010

"As he spoke my spirit climbed into the sky
I bid it to return
To hear your wonderous stories
Return to hear your wonderous stories
Return to hear your wonderous stories"

Certo dia, li que nós éramos do tamanho de nossos sonhos. Sempre me perguntei se os sonhos realmente são medidas para se mensurar o tamanho de alguém. Hoje vi que isso é meio defasado.
Acabo de voltar de uma palestra de alguém que se tornou grande com um sonho simples e pequenino: devolver aos seus vizinhos as histórias de imigrantes que os ouvira contar.
Quando ouvi a história das histórias que ele ouvira, percebi que não só seu pequeno sonho foi realizado, como foi aumentado e transmitido a mim, paulista, sentada numa platéia, anos depois, sem nenhuma descendência de imigrantes russos e nem um traço de ‘gauchês’.
Fora o encanto que passei a sentir ao ouvir tudo aquilo, enfrentei a surpresa. Buscava respostas para as minhas dúvidas com relação ao trabalho de escritor. O que vi foi a simplicidade de um ‘não sei’ tão leve e tão confortador como seria uma resposta bem formulada e toda compostas de argumentos coerentes e coesos.
A literatura, segundo Moacyr Scliar, o membro da Academia Brasileira de Letras que só queria escrever para o bairro gaúcho em que vivia, é plena de emoção. E foi isso que vi hoje.
Não é fácil identificar a origem da vontade de escrever, muito menos a origem das histórias que se escreve. Elas são frutos da imaginação.
Eis aqui o médico: inspiração, segundo Moacyr, é fruto da segunda parte em que se divide a mente, o inconsciente. Eis aqui o escritor: inspiração é algo do inconsciente que abre a porta para o inconsciente, trazendo à tona toda nossa imaginação, toda a nossa fantasia. A literatura, então, é o inconsciente dando voz às nossas fantasias.
O escritor tem grandes ou pequenas idéias. A diferença dele para os outros é que ele sabe escrever. Ou seja, é preciso dominar uma técnica literária. Como se domina uma técnica? Simples, sendo leitor.
E o que se lê? Lê-se o que se quiser! Eis aqui o piadista: Se você quiser ler a lista telefônica, eu te direi que ela tem personagens demais...
E mais: o escritor, quando relê seus textos, quase sempre se incomoda com eles, nunca gostará do próprio texto. Sempre pensará que uma frase ou uma palavra poderia ser mais bem colocada, sempre achará erros.
A literatura é fruto de emoções, é veiculada por elas. E tudo isso numa história... tão simples, tão sublime!

sexta-feira, 30 de abril de 2010

Odeio fazer provas e trabalhos em grupo. Descobri, faz pouco tempo, uma coisa em mim que posso, muito facilmente, chamar de individualidade exacerbada, quase narcisismo, e me dói à beça ver o "escriba da vez" resumir meu texto.
O meu texto, meu amado texto! Aquele que sofri para tirar desse mundo de sinapses de que é constituído meu cérebro e que sofri para passar no papel. Meu amado texto, jogado fora, dilacerado por outras mãos!
Acaso não percebes o quão importante ele é para mim? Acaso não vês que, se escrevi, é porque era essencial para o que eu queria dizer? Não é poema! Não é poema... não é poema..... Como assim não é poema? De fato não é, mas eu quero que tenha traços de poema no meu texto, por que não? 
Diria você que o tempo está acabando. Dane-se a droga do tempo! Eu fico, eu escrevo, mas não corte, dilacere, reduza meu texto à mera resposta... dói. Dói.... Dói! É dor física, é dor mental, é dor de autor.

sábado, 17 de abril de 2010

Mau demais, nas Catedrais!

Compromisso cumprido, saí sem rumo pela cidade grande, com uma sensação de alívio diferente. Não felicidade, alívio!
Onde será que acaba essa ponte? Andar por onde você não conhece? Se bem que é cedo ainda, não? Ah, vamos ver! Olha..... quanto ônibus lá embaixo! Deve ser um terminal.....
O que essa louca está gritando? A amiga dela não vai ouvir nunca! Que bom que o amigo dela lembrou-a disso! Obrigada, senhor!
Eu deveria ter dito isso, e mais isso, e mais isso. Chega, garota, você não disse! Fez o que pode na hora. Nada mais, nada menos. Eita...quando é que eu pensei que o acharia no meio de tanta gente?Que feliz!
Olha... eu vim por uma rua parecida com essa. Subindooooooo!
Bom dia!
Encruzilhada.... continuar a subir, virar a direita e subir a outra rua ou virar a esquerda e descer? Dane-se! Subir! 
Nossa... que prédio lindo! Bem que o Luís me disse que eu ia gostar daqui. Mas ele disse para eu vir no domigo, não em plena sexta feira.... Ops, que horas são? Nem deve ser nove... foi mais rápido do que eu esperava. Se eu soubesse disso, teria ido embora depois, para ver a aula no noturno. Ahhhhhhhh... à merda você e a aula! Já faltou mesmo, fique em casa! 
Subindo... Nossa, que prédio grande! O que será que é isso?... Ah sim, uma igreja. Nossa... é bonita!
Olha.... um franciscano na porta da igreja. Uoloko.... é o Largo São Francisco! Nossa.... é bonito, mas eu pensei que fosse maior... E nossa, é aqui? Que x isso!
Ai que bonitinho esse anjo! E que cara de sapeca! Um casal, ao que parece... blá blá blá.....Caraca, Álvares de Azevedo! Foi poeta, amou e sofreu na vida... Homenagem dos estudantes de Direito do Largo São Francisco. Porra, Álvarez de Azevedo.... foda!
Continuando.... direita sempre!
Nossa... que cheiro! Pessoas de terno... advogados... bem próprio! Arg... urina! Que horror!
Que prédio é esse? Olha, é a Saraiva! Entrou ou não? Ah... os estudantes de letras! Blá! Deve estar fechado. Tem um cara lendo lá dentro!
Semáforo vermelho.... Espere! Não vai fazer que nem aquela outra vez, porque não tem Karen para te gritar hoje, garota!
Será que já dá para atravessar? Bom, siga os que assim o fizeram!
Olha.... o teto de uma igreja.... acho que coheço essa! Já sei onde estou!
Bom dia, bom dia, bom dia... sorrisos! 
Eita, polícia! Documentos pedidos para dois caras suapeitos. Ai senhor, segura a bolsa!  Ai senhor, olha aonde você foi se enfiar. Andar por aí, onde não conhece? Ai como você é neurótica!
Eita, o que esse cara tá correndo, senhor? Ufa... nada de mais. Olha aonde você está, pessoa! Estranho seria se ninguém corresse!
Olhaaaa... um cabeludo! De que banda será aquela camiseta.... Arrrggg... não dá pra ver! Para de olhar, você vai ser roubada! Segura a bolsaaaaaaaa!
Oi, por favor, bom dia. Como eu faço para chegar na Estação da Luz? Nossa moça, você tem voltar para lá e... Não! Vai por aqui! Qual é a estação de metrô mais próxima? Ahhh... é a Sé...-por isso eu digo que você não tinha noção de onde estava, sua louca!- ... Mas você está a pé? Estou. Ah... mas então é melhor você voltar por ali e seguir sempre reto que você vai encontrar. Não.... dá pra ir para a Sé sim. Moça, você vai passar essa, daí você vai descer e virar para a direita. Que direita? Esquerda! Ela vai fazer assim, ó - aponta com o braço, segurando a vassoura- Não, é direita! É direita! Mas então, moça: você vai fazer o seguinte: não essa rua, a próxima, você vai descer e virar a direita e já está na estação da Sé. Muito obrigada!
Então fulana.... era direita! Não, esquerda!
Eita, mas será que elas vão ficar discutindo isso? Ráh, que engraçado! 
Passou uma, segunda rua, desci. Todo mundo andando depressa, que beleza! Nossa, que prédio será esse? Cheio de segurança!
Olha, a estação Sé. A primeira moça tinha razão, era direita!
Uou! É a Catedral da Sé..... eu sabia que conhecia isso! Entro ou não entro? Não estou fazendo nada mesmo, não tenho pressa.... Vou entrar! 
Subi as escadas, dando risada de um moço que estava, com um amigo, tirando foto na porta da Catedral. Entrei. Nossa, que lindo! Que grande!
Olhei tudo ao meu redor. Muito grande! Olhei a porta da Catedral. Pé altíssimo!
De repente, me senti mau. Me senti pequena demais diante daquilo tudo. Aquela coisa toda da Idade Média que eu tinha estudado me transcorreu as veias em instantes. Igrejas grandes para fazer com que as pessoas se sintam pequenas e procurem ajuda divina. Continuei andando. Havia algumas pessoas sentadas nos imensos bancos dispostos em três filas, também imensas. Peguei o lado direito da igreja e por ele transcorri toda a sua extensão. Os vitrais eram bonitos, mas muito grandes. Muito grandes mesmo!
Os confessionários, protegidos por correntes e no escuro da igreja pareciam pequenas jaulas de onde podeia sair, a qualquer hora, uma figura assustadora, só para me dar medo. E foi essa a impressão que tive percorrendo toda aquela extensão. Silêncio mortal contribuía para a tensão da cena. Pilares altíssimos, altíssimos!
Voltei, ainda pelo lado direito, até o final do corredor, em direção a porta por onde eu havia entrado. Parei meus olhos na caixinha de folhetos de missa. Logo após a famosa caixinha de contribuição, com a famosa inscrição 'Colabore com a manuntenção da Catedral'... De fato, ela está bem conservada. O segurança me olhando. Sorri. 
Olhei a minha frente, lado esquerdo da igreja. Barraquinha vendendo terços e outras coisas próprias do recinto. Muito próprio, pensei. Única interrupção do silêncio, por enquanto. Peguei o lado esquerdo e comecei a andar. Vitrais bonitos, mas grandes, muito grandes. Anjos de uma cor dourada que presumi que fosse ouro. Claro, é ouro. Isso explica os seguranças. Nossa, o senhor não está dando conta de cuidar nem da própria casa? Cômico, no mínimo! Pensei que essa igreja talvez nunca conseguisse ficar cheia. Também pensei como seria casar ali, quanto seria o aluguel dela para essa ocasião, se é que se alugam igrejas para isso. Nem namorado, quanto menos noivo ou marido!
Anjos dourados, maiores que eu, pareciam ser estátuas vivas, só esperando eu passar para se mexer e, com isso, me asustar. A realidade de suas formas era coisa a se achar de muita qualidade, de muita valia, fato! Vi depois que, incrustadas nas paredes, esculturas douradas do que pareciam, pelas roupas, serem pelo menos bispos da Catedral, sé é que não eram representações dos vários papas da Igreja. Também parecia que iam sair a qualquer hora das paredes, adquirindo nova vida.
Órgão sendo tocado. Ah, sim! Isso explica as pessoas sentadas. Missa em seu início. É mesmo... eu vi nosso amigo, o Cardeal- é esse o nome de quem controla a Catedral?- olhando um livro com um rapaz sentado do outro lado da igreja. Escolha de músicas, missa começando, claro! Mas isso não explica as duas pessoas que vi cochilando nos bancos, nem o cara que eu vi entrar rindo e falando algo alto do lado direito da igreja. Vai saber.....
Olhei mais uma vez: vitrais coloridos, grandes colunas, escadas imensas, incrições em latim que nem eu sabia o que significava, altar muito grande, muito grande mesmo, colunas grandes, muito grandes, imensas... e os seguranças. Sair daqui já! Sorri para o segurança e saí. Segui o ritmo de quem passava lá fora, me esquivando, ora para a esquerda, ora para a direita, com a mesma cara de alívio de antes, e desci.  
Estação da Sé. Moça, quer tirar foto, precisa de um endereço? Susto! Senhor, vi o Quasímodo na minha frente!Que maldade, garota! Não, obrigada! Dirijo me a escada. Moça, precisa de algum endereço? Não, já achei- aponto para a entrada da estação. Quer tirar uma foto? Não, obrigada. Outro rapaz, desta vez um afrodescendente encorpado. 
Desci as escadas e, depois de me perder nas indicações, coçar a cabeça repetidas vezes, como faço toda vez que me sinto confusa ou com muita raiva, e de perguntar como fazia para embarcar, achei a tal entrada e vi que não tinha mudado muito da que eu estava acostumada a pegar antes. Eu só tinha entrado pela esquerda. Olhar as coisas de outro ângulo... eu disse que gostava! Descendo! Esse caminho eu conheço de cor já! 
Saí no meio daquele povo todo. A cabeça fruto de vários sonhos, lmbranças, uma melodia. Passei a catraca, desci a escada rolante na lerdeza do mecânico em contraste com peso e a rapidez do Metal, cheguei até a plataforma de número cinco, com a famosa cara de má que me toma quando sozinha, a levar meu corpo de sobrepeso por toda essa coisa que se chama vida, por meio de passos, quando vi algo que me acordou e que me fez querer dormir para todo o sempre, amém!
Um senhor, ao me ver, levantou de onde estava sentado. Um jovem pediu a caneta emprestada e, ao ouvir o senhor dirigir a mim a palavra, fui logo dizendo um 'depois dele'.
Então percebi o que o senhor queria: ele queria que eu preenchesse a passagem dele. O senhor era analfabeto. 
Preenchi a passagem e dei as indicações ao senhor quando este, sozinho, entrou no ônibus.
Fiquei feliz por ter feito isso. Dizem que as boas ações enchem a alma de alegria e recebem a devida recompensa ao seu devido tempo, mas não pude deixar de pensar que mundo cão é esse que não dá à todos a dignidade do saber, muito menos as condições necessárias para que alguém possa se virar, sem dependência, dentro dele. E mais: qual é o risco/preço de se confiar em outras pessoas num lugar em que os honestos são tidos, para se falar o mínimo, como tolos? You know it´s sad but true... Sad, but true!

sábado, 27 de fevereiro de 2010

Canções

Dormi pensando num texto parecido e, como acordei ainda com trechos dele na cabeça, resolvi escrever. Acho que ficou legal.


Meio PARANOID, quase inteira GOODBYE TO ROMANCE. Entrei em uma ROAD TO NOWHERE, por não escutar todo o WARNING que me foi dado.
SURELY, I´LL SURVIVE. Mas, para isso, talvez eu tenha que derramar TOO MANY TEARS, porque eu tenho muito WASTING LOVE e muito WASTED TIME.  
Me sinto meio MAIOR ABANDONADO e ninguém veio ao menos me contar uma história romântica. Está tudo meio fora de lugar: o café não tem açúcar, não tem dança, muito menos par.
Tudo isso porque um VENTO, uma rainha ou estrela cadente, de março, abril, MAIO, veio, num pique só dela- ou dele, e eu nem pude dizer até nunca mais. Choveu no meu piquenique. Uma chuva que veio tão de repente que eu não pude nem parar, nem voltar atrás.Seriam sons de BANDOLINS ou é só a minha AGONIA?
É engraçado e não é tão EASY like Sunday morning... Às vezes eu penso que só quando eu estiver BEYOND THE REALMS OF DEATH, MAYBE eu tenha alguma chance de REST IN PEACE.
Mas, FROM NOW ON, já que você não pode ser meus PRIDE AND JOY, digo que há NO TIME para você. Então HIT THE ROAD, JACK!
Acho que algum dia eu serei meio LUCKY MAN, e terei algo para me orgulhar FROM THE BEGINING. Talvez eu pegue o LAST TRAIN TO LONDON ou vá tomar meu BREAKFAST IN AMERICA. e descubra que LOVE IS LIKE OXYGEN. Por enquanto, eu estou meio not only, but also LOST IN THE SUPERMARKET e só o que me resta é ser HAPPY WITH WHAT YOU HAVE TO BE HAPPY WITH, antes que eu mesma faça meu próprio EPITAPH.....
C´EST LA VIE!

segunda-feira, 22 de fevereiro de 2010

Protesto interiorano II- anexo

Mais um vídeo

Protesto interiorano II

Aproveito esse espaço para divulgar essa reportagem e fazer meu papel de cidadã direito. Os bairros mostrados nela são os  mais distantes do centro, o que não conta muito, pois, o centro também está com situações muito parecidas. O mais engraçado é que, até a rua da casa do responsável pela cidade está um verdadeiro lixo. Sem contar que há os outros problemas que a reportagem também aponta. Pensem mais na próxima eleição e comprem suas geladeiras vocês mesmos, pelo amor de Deus!


sábado, 20 de fevereiro de 2010

 


Recebi essa mensagem por e-mail e resolvi postá-la. É uma boa reflexão.... pense a respeito!
 
 
 
Nós bebemos demais, gastamos sem critérios. Dirigimos
rápido demais, ficamos acordados até muito mais tarde,
acordamos muito cansados, lemos muito pouco, assistimos TV
demais e raramente estamos com Deus.

Multiplicamos nossos bens, mas reduzimos nossos valores.

Nós falamos demais, amamos raramente, odiamos
freqüentemente.

Aprendemos a sobreviver, mas não a viver; adicionamos anos
à nossa vida e não vida aos nossos anos.

Fomos e voltamos à Lua, mas temos dificuldade em cruzar a
rua e encontrar um novo vizinho. Conquistamos o espaço, mas
não o nosso próprio.

Fizemos muitas coisas maiores, mas pouquíssimas melhores.

Limpamos o ar, mas poluímos a alma; dominamos o átomo,
mas não nosso preconceito; escrevemos mais, mas aprendemos
menos; planejamos mais, mas realizamos menos.

Aprendemos a nos apressar e não, a esperar.

Construímos mais computadores para armazenar mais
informação, produzir mais cópias do que nunca, mas nos
comunicamos cada vez menos.

Estamos na era do 'fast-food' e da digestão lenta;
do homem grande, de caráter pequeno; lucros acentuados e
relações vazias.

Essa é a era de dois empregos, vários divórcios, casas
chiques e lares despedaçados..

Essa é a era das viagens rápidas, fraldas e moral
descartáveis, das rapidinhas, dos cérebros ocos e das
pílulas 'mágicas'.

Um momento de muita coisa na vitrine e muito pouco na
dispensa.

Uma era que leva essa carta a você, e uma era que te
permite dividir essa reflexão ou simplesmente clicar
'delete'.

Lembre-se de passar tempo com as pessoas que ama, pois elas
não estarão aqui para sempre.

Lembre-se dar um abraço carinhoso em seus pais, num amigo,
pois não lhe custa um centavo sequer.

Lembre-se de dizer 'eu te amo' à sua companheira(o)
e às pessoas que ama, mas, em primeiro lugar, se ame...
se ame muito..

Um beijo e um abraço curam a dor,
quando vêm de lá de dentro.

Por isso, valorize as pessoas que estão ao
seu lado, sempre.

quarta-feira, 10 de fevereiro de 2010

Um dia você descobrirá que nem tudo na vida é fácil. Nem todos são seus amigos, nem todos seus sonhos se realizarão. Então, alguém lhe dirá que isso é a vida e que é melhor conformar-se. Ou dirá algo pior, mais dolorido: o famoso "Eu te avisei".
Mas, se avisos e conselhos fossem tão bons quanto se prega que sejam, com a sociedade como está hoje em dia, eles seriam vendidos a preço altíssimo.
Ah sim! Outra coisa que você descobrirá é que se alguém puder te prejudicar e esfregar na sua cara todo o objeto de seu desejo e dor, ela o fará, e com o melhor dos sorrisos.
Minha raiva é também porque estou sem telefone, quase sem dinheiro, sem moral, sem juízo, sem alegria.
Vi névoas e o cheiro verde de mato coberto pela lua. Vi um mundo colorido com giz pastel, cores suaves. Vi uma criança de olhos claros me olhar e sorrir. Não um sorriso inocente a que, geralmente, se atribui a um ser de pouca idade. Era um sorriso presunçoso e desafiante. De repente, ela correu. Correu para dentro da névoa. Desesperei-me. Quis gritar e a única coisa que fiz foi abrir a boca e estender o braço direito, num grito mudo. E, de repente, não era névoa, e sim o sereno na grama molhada, e não era um braço estendido em desespero, era um braço segurando uma lata de Coca-cola. Não era grito, mas sede. A criança sim, essa era mais real do que tudo: era a sombra do que nunca será, do que nunca foi.
Um dia, você também descobrirá...

domingo, 31 de janeiro de 2010


Soltaste monstro ferido, forte, atado. Com muito custo, atado. E soltaste no mais simples e primordial dos gestos.
A beleza de sua ação não passou despercebida, assim como o mau que causou. Às vezes, as boas intenções surtem exatamente o efeito contrário do pretendido. E a culpa é de alguém, cujo nome não se sabe.
A luz fez com que a ilusão dominasse monstro ferido, a muito custo atado. Fez com que achasse que poderia respirar e ser livre e belo, mais uma vez... só mais uma vez! Mas não. A luz foi demais para o monstro ferido, a muito custo atado, acostumado à umidade e a sombra das pedras.
Há quanto tempo vocês namoram? Nossa, vocês combinam tanto!...

sábado, 30 de janeiro de 2010

Protesto interiorano



Essa é a minha casa. Essa é a minha rua. Esse aí, agachado, é meu pai. Esse de pé é um vizinho. Essa aí é aquilo que era para ser a rua de casa. Essa rampa, a garagem. 
O buraco é causa da chuva. Chuva que também castigou o pacato interior. Chuvas acontecem em todo o lugar.
Então, você pergunta: 'Que raios o seu pai está fazendo aí?'
Meu pai está consertando a garagem para que possamos, seguramente, sair com nossos carros dela.
Outra pergunta normalmente se seguiria: 'E porque é que, então, seu pai não chama os responsáveis pela manutenção das ruas, que seria, certamente, a prefeitura e seu governante?'
Porque, sabemos todos, o último que tentou fazer isso correu o famoso risco de vida. O penúltimo recebeu como resposta o mais velho dos ditados: 'Os incomodados que se mudem.'
Já que nos é dito um belo 'Vai na frente que eu vou bem depois', o que resta é fazer por si mesmo. Mas, que é um absurdo, é!

quinta-feira, 28 de janeiro de 2010

O dono da razão... e não só dela!

O mundo explode lá fora. Na minha, na sua, na nossa cara, mas eu, depois que me sento frente a esse computador, me esqueço de tudo. Esqueço de como o mundo gira e de como as coisas são. Cruéis, muito cruéis, crudelíssimas.

Mas, como sempre, parei para prestar atenção numa coisa. E, claro, como não podia deixar de ser, é uma letra de música. E logo, também como não poderia deixar de ser, relembrando fiquei de uma conversa com uma amiga que encontrei no ônibus, na qual recordávamos, além de quanto a vida é cruel, cenas do passado, breves memórias alteradas pelo álcool.....E, de repente, me vi dentro dela! Simples assim, dentro dela!

"Enquanto te desejo
me vejo chorando no meio da rua
beijo teu sorriso num dia de sol
que entra pela porta
e canta pela janela"

..................


"As frases são minhas
as verdades são tuas"
A gente discutindo qualquer coisa e, mesmo que você esteja errado, é mais fácil ouvir você dizer um 'Eu sempre tenho razão!' do que um simples pedido de desculpas. Acaso não é muito semelhante?

Murmurar na chuva, como um refrão, a gente já murmurou. E, desculpe, ficou na memória! Só espero que, agora, a parte final da música se realize.

O ciúme

Acabo de ler num blog que o ciúme deve ser mostrado logo que sentido. Lembrei-me de uma cena, mas não será essa que descreverei porque essa não foi a primeira e nem será a última. Sendo assim, deixarei espaço para a descrição da mais recente.
Você não está, não mesmo. Encontra-se em alguma sonífera ilha, por aí, embriagado, com o clima ou com alguns copos do sumo que mais alimenta sua vida e que nós dois sabemos qual é. Mas suas coisas estão aqui. Sim, suas coisas estão aqui. Em momentos de tecnologias avançadas, ninguém se ausenta por completo. E eu digo graças à deus, ou à deuses- porque, nessa altura do campeonato, eu já nem sei mais em que acreditar-!
Procuro, então, sua presença virtual, porque, desde que te disse boa viagem, já senti sua falta. Ou melhor, como já te disse, sinto sua falta mesmo com a sua presença real. 
O que encontro é um último recado, que eu já tinha visto, da última de suas conquistas, ou do último de seus desejos, e me pergunto o que terás respondido, se é que respondeu. Não vejo, o que me angustia ainda mais. Não me é permitido ver através de um livro fechado. Só o que me foi permitido foi sentir ciúmes e, como você não está, preciso fazer com que a flor exista e não vire um vegetal de cheiro e aspecto desagradáveis aos meus olhos e ao meu olfato. Foi a forma que encontrei...

segunda-feira, 25 de janeiro de 2010

Prosa de versos

"Quando eu fui ferido/ Vi tudo mudar/ Das verdades que eu sabia/ Só sobraram restos/ Que eu não esqueci/ Toda aquela paz que eu tinha"

Hoje acordei cedo. Mais cedo do que imaginava acordar....
E cedo comecei a destilar meu veneno-piada aos quatro ventos, inclusive virtuais.
O que eu não esperava é que esse veneno-piada fosse virar discussão. Nem que fosse virar discussão com quem virou.

"Você sabe o que é ter um amor, meu senhor/ E por ele quase morrer"

O que me dá raiva é que é fácil dar conselhos, mesmo que eles sejam os mais avessos do mundo, meeeeeeeeeeesmo! E o pior é que os conselhos não servem nem para quem os deu. Mais um motivo de raiva. Mais um dos motivos é como se pode esquecer algo ou alguém de quem não se para de falar e /ou ter notícias? Você queria ajudar? Mesmo? Digo que escolheu o modo errado!

Daqui a pouco, passa, eu sei! Mas o que quero deixar bem claro é que lutarei, lutarei todas as guerras, enquanto eu achar que o sangue derramado ainda vale a pena.

"Às vezes tenho raiva/ Às vezes sinto que a ilusão/ Me faz perdoar / Pois muita gente mente/ Muita gente dá a mão/ Só pra empurrar/ Só pra empurrar/ Te dão a mão/ Te dão a mão/ Só pra empurrar!"


sábado, 23 de janeiro de 2010

Sobre meu livro...

Uma pessoa querida me deu a idéia de escrever um livro. Pensei seriamente a respeito, e acho que só ela compraria.
Escrever, escrevo bem. E sim, resolvi largar a modéstia feito um cão sem dono numa das rodovias em que passei, de madrugada.
Fato é que eu acho que minha vida não é interessante para livros e que nenhuma editora teria 'peito' de arcar com os meus prejuízos... e os dela.
 Mas, como todas as almas meio enlouquecidas pela arte, pelo cigarro, pela cerveja, vinho e/ou outras drogas (i)lícitas se entendem, eu já comecei a pensar em como escreveria. Uma das idéias estava na minha cabeça agorinha agorinha, mas já sumiu.....
 VIDE O NOME DO BLOG!

quarta-feira, 20 de janeiro de 2010

Querido diário

Já que ninguém visita mesmo e que esse blog parece mais um diário mal escrito, de uma pessoa já chamada de 'brizada ao natural', lá vamos nós....

Querido diário,
Hoje me aconteceram duas coisas. Uma boa e uma ruim. Digo hoje porque, apesar de eu não ter dormido antes, já era dia 20! Uma hora do dia 20, mas já era dia vinte!
A boa foi uma conversa muito interessante, a outra foi uma conversa sem conteúdo. A outra, a ruim.....
Dormi feliz... é gostoso quando tudo dá certo.  Sei lá que ar gostoso é esse que a gente respira quando ama. Mas acordei com a notícia dessa conversa sem conteúdo e me dei conta de que a felicidade, conforme diria aquela música, cujo cantor e/ou compositor eu não faço a mínima idéia de quem seja, tem mesmo um fim, e é rápido, ao contrário da famigerada tristeza.
Eu já tinha notado que fazer diferença é mero acaso, não escolha, porque não adianta você querer fazer a diferença na vida de alguém... ela precisa deixar que você faça isso. É a versão 'tempos modernos' de 'ensinar a pescar, não dar o peixe'... Mas, fato é que eu ainda insisto em querer fazer a diferença na vida de outra pessoa, sem perguntar se ela quer deixar. E isso é frustrante, além de acabar com a minha alegria. A outra conversa, apesar de eu não fazer parte, me fez lembrar disso.
No mais não me aconteceu nada ainda, só um ar sufocado e quente que eu ainda não consegui decidir se é só calor ou é frustração também.

Adeus querido diário. Se, de alguma forma você pode fazer isso, torça por mim!

segunda-feira, 18 de janeiro de 2010


O mundo me deprime. O diesel custa R$ 1,98, o álcool, R$ 1,87 e a diferença entre a gasolina aditivada e a comum é de apenas um centavo. O posto tem o nome que provavelmente você já usou para descrever um coleguinha de quinta série desprovido, segundo seus padrões, tão confiáveis quando esses combustíveis, de inteligência. Talvez eu devesse colocar um plural nesse nome, mas isso me incluiria nessa rebordosa, e eu não decidi ainda se pertenço a ela.
As horas? Nem sei. Meu celular está sem bateria, só para variar. O céu está escuro, o que não me dá garantia alguma. O mundo me engana. É claro e já é tarde. É escuro e ainda é cedo. Pelo menos tenho ele para perguntar as horas. Eu queria outra coisa mas, o fato de eu perguntar as horas e ele responder, por enquanto, é suficiente. Ele me odeia, ele não me odeia, ele me odeia, ele não me odeia.... Eu o amo, eu não o amo, eu não o amo, eu o amo... É utópico, e é para sempre, como todas as utopias, quer morra seu idealizador, quer não. Que engraçado! Se o idealizador, que é mortal logicamente, não morre, para onde é que ele vai? Risível! Que horas são? Cinco para uma. Sinal de positivo.
...
Um gole dessa cerveja, quem é que me dará? Lá vem a lata! Que horas são? Uma e meia. Mais um sinal de positivo.
...
As pessoas andam, para lá e para cá. Eu estou vendo tudo. E elas andam. E me vêem também. Que horas são? Dez para as duas. Vocês vão ficar? Faces em dúvida. Bom, eu vou indo... tenho consulta aman... hoje cedo.
Vai pela sombra! Ela me acompanha, seja lá o que isso quer dizer.
As partículas branco-malévolas serão agitadas no ar livre, por moedas-plástico. Pela moeda-papel, penetrarão entranhas. A dúvida é somente quantas. Se é só a sua ou é a dele também. Me pergunto se deveria ter ficado. Talvez eu salvasse uma alma, talvez eu perdesse a minha. Enfim.....
Parto sem olhar para trás. E agora, a rebordosa é minha, comigo. A mulher-medrosa aguça todos os sentidos e agarra a bolsa, para não ser pega de surpresa. A mulher-forte diz que tudo isso é babaquice e que o melhor é mesmo andar. A adolescente salva-mundo depressiva corre, desesperada e em disparada, e talvez se atire na frente do primeiro caminhão que encontrar. A criança chora mais desesperada que a adolescente. A mulher-forte diz: ande! Dez, vinte, trinta, quarenta, cinqüenta metros, e a mulher-medrosa olha para trás. Talvez eu devesse ter ficado. Babaquice, diz a mulher-forte. A adolescente salva-mundo já foi dessa para melhor, e a criança ainda chora.
Alguém, lá dentro diz: vai doer só um pouquinho. E a faca é retorcida... Um pouquinho mais, um pouquinho mais. A criança chora. Babaquice, diz a mulher-forte.
Ao final, o que temos é a vitória da mais improvável: a criança. Chego a minha casa, tiro os sapatos que, assustadoramente, se assentaram perfeitamente aos meus pés. Tiro também tudo aquilo que antes era assentado ao meu corpo e que agora me aperta. Um camisão, por favor! E as lágrimas virtuais vertem, como se fossem seguras apenas pelas roupas justas.
A cama é o mais aconchegante que consegui. As lágrimas vertem, a luz apaga e o celular tem sua bateria de volta, assim como a dona, mulher-forte, apesar das outras. O bom é que tudo isso me dá o que escrever, pelo menos.